O termo neologismo tem origem etimológica nos formativos gregos neo (novo) e logos (palavra, discurso), significando literalmente “palavra ou expressão nova” (Correia; Almeida, 2012; Ferreira, 2021). Os neologismos servem para nos mostrar que a língua é viva, como um organismo, e se adapta a novas tecnologias, comportamentos e realidades da experiência humana. Épocas marcantes como o período pandêmico do coronavírus, por exemplo, trouxeram uma infinidade de novas palavras tanto para o cotidiano popular quanto para contextos profissionais diversos: corona, covidar, lockdown, distanciamento social, testar positivo (para covid) e teletrabalho são apenas algumas dessas palavras/expressões inovadoras.
Existem diferentes maneiras de criarmos neologismos, bem como critérios para se definir se determinada palavra é nova ou não.
Tipos de neologismos
Neologismos podem ser criados quando inovamos na forma, no significado ou no uso de uma palavra de outra língua no contexto da nossa língua (Ferraz; Liska, 2021; Ferreira, 2021). Assim, temos os:
- neologismos formais — criados por processos de afixação, composição, cruzamento vocabular, truncamento, entre outros, que inauguram uma nova palavra por meio de uma forma inédita. Exemplos: sextou, desumilde, terraplanista;
- neologismos semânticos — criados por processo de extensão de significado, que inauguram um novo significado em uma forma de palavra já estabelecida na língua. Exemplos: cancelar (desprestigiar uma pessoa por suas falas e comportamento na mídia), nuvem (armazenamento online de dados), viral (publicação que se espalhou rapidamente pela internet);
- empréstimos linguísticos e estrangeirismos — que são palavras/expressões importadas de outra língua. Exemplos (importados do Inglês): print, tuíte, streaming.
Mas o que é ser “novo”?
O neologismo tem entre uma de suas principais características a novidade que desperta nos falantes, o dito sentimento de novidade (Correia; Almeida, 2012). Esse sentimento tem a ver com o estranhamento causado por aquela palavra que mal conhecemos (ou não conhecemos) e acabamos por compreender de modo quase intuitivo. Ou quando nos deparamos com determinada palavra da língua que “não existe”, mas é compreensível em um dado contexto recente de uso e utilizada por uma variedade considerável de pessoas, mesmo não sendo dicionarizada. No entanto, classificar se uma palavra é ou não neológica apenas por essa sensação de novidade é algo muito pessoal, subjetivo: o “novo” compreendido por um senhor de 70 anos, agricultor, de uma região interiorana, é bem diferente do “novo” compreendido por uma mulher de 35 anos, engenheira, de uma capital. Assim, para classificarmos a novidade de modo mais objetivo, devemos trabalhar com outros critérios além de nossas impressões psicológicas.
Na Neologia, campo de estudo da Lexicologia que trata dos neologismos, um dos principais critérios utilizados é o critério lexicográfico (Correira; Almeida, 2012; Jesus, 2021). Neste critério, para avaliar se determinada palavra é nova ou não, deve-se selecionar um grupo de dicionários reconhecidos da língua e consultar se existe entrada da palavra em questão. Como as palavras podem demorar anos para serem implementadas aos dicionários, a ausência nesses registros favorece a novidade e o uso recente, próprios de um neologismo. A Neoteca também utiliza o critério lexicográfico para verificação da novidade dos potenciais neologismos coletados, com base nas seguintes obras:
- Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP)
- Dicionário Caldas Aulete Online
- Dicionário Houaiss Online
- Dicionário Michaelis Online
As potenciais novas palavras recebidas pela Neoteca são consultadas no Volp e nos três dicionários; caso a palavra não conste no Volp e em pelo menos dois dos dicionários, temos um novo neologismo em nosso acervo!
É importante compreender que o neologismo não é uma classificação fixa, mas um estado de determinada palavra ou expressão próprio de um tempo específico. Como pessoas (e as próprias línguas), palavras nascem, crescem (se difundem) e morrem (deixam de ser usadas). A Neoteca busca registrar essas crianças-palavra e entender seu nascimento e sua infância criativa, a fim de mostrar como cada uma representa nossa mania de reinventar a língua para criar o mundo.
Bora neologar com a gente?
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Referências
CORREIA, Margarita; ALMEIDA, Gladis Maria de Barcellos. Neologia em português. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.
FERRAZ, Aderlande Pereira; LISKA, Geraldo José Rodrigues. Pandemia e neologia em manchetes jornalísticas: criatividade lexical em foco. Estudos Linguísticos, São Paulo, v. 50, n. 3, p. 1047-1063, dez. 2021. Disponível em: https://revistas.gel.org.br/estudos-linguisticos/article/view/3055. Acesso em: 11 jan. 2025.
FERREIRA, Paulo Ricardo Sousa. Neologismos e Processos Lexicais Criativos: a Produtividade Lexical sob a Ótica da Linguística Cognitiva e Gerativa. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.6084/m9.figshare.14485974.v1. Acesso em: 22 abr. 2024.
GONÇALVES, Carlos Alexandre. Atuais tendências em formação de palavras. São Paulo: Contexto, 2016.
JESUS, Ana Maria Ribeiro de. Princípios metodológicos para a detecção de neologismos da comunicação digital. Estudos Linguísticos, São Paulo, v. 50, n. 1, p. 243-261, 2021. Disponível em: https://revistas.gel.org.br/estudos-linguisticos/article/view/2961. Acesso em: 20 jan. 2025.
